Foto: Arquivo pessoal do entrevistado.
A Coluna Quatro Linhas sempre preocupada em trazer
entrevistas com assuntos relevantes relacionados ao esporte.
A temporada de competições esportivas já começou e a
psicologia do esporte tem um dos seus pilares mais importantes: a contratação
de profissionais perfeitamente capacitados pelas equipes e clubes desde o
começo da temporada para evitar a necessidade da procura dos mesmos no final da
temporada, quando as equipes já estiverem em uma situação extremamente
complicada, já perto do rebaixamento.
Nas categorias de base, a preocupação da psicologia do
esporte está centralizada na motivação dos atletas em busca da realização de
grandes conquistas e daí entram as palavras pilares como Dedicação,
determinação, disciplina entre outras.
A psicologia do esporte também trabalha com problemas
como ansiedade que jovens jogadores
possuem no momento de resolver as situações complicadas das partidas, no
individualismo de querer marcar o gol sozinhos sem passar a bola aos
companheiros de equipe, sobre como administrar o sucesso quando ele chega muito
cedo e os empresários, na busca de grandes lucros, negociam os jogadores sem
que os mesmos estejam completamente prontos emocionalmente para enfrentarem a
vida em outros países, com adversidades como dificuldades com o idioma, a falta
do convívio familiar e a dificuldade de relacionamento com a nova equipe.
O psicólogo Alexandre Herbst, especialista em psicologia do
esporte, vai contar um pouco de sua experiência profissional sobre os aspectos
acima relacionados.
“Psicólogo formado pela Universidade Positivo,
especializando em Psicologia do Esporte pela Associação Paulista de Psicologia
do Esporte – CEPPE, teve contato com a área primeiramente durante a graduação,
onde tive a oportunidade de participar de diversas atividades relacionadas com
a mesma.
Entre outros trabalhos e outras modalidades, já atuou em
categorias de base do Clube Atlético Paranaense, em um centro de captação e
formação de atletas, desenvolvendo trabalhos de observação e mapeamento de
perfis de atletas, e hoje desenvolvo projetos voltados a iniciação esportiva e
formação de atletas.
Esta é uma área que requer especial atenção, pois a prática
esportiva infantil e adolescente tem impactos significativos na formação e no
desenvolvimento dos indivíduos e suas personalidades.
Se for bem
direcionada e feita de maneira adequada, o jovem atleta terá diversos
benefícios, tanto físicos, quanto psicológicos e emocionais, como o
desenvolvimento de habilidades sociais, capacidade de lidar com stress e
ansiedade, aumento da autoconfiança, entre muitos outros. Entretanto, se esta
prática esportiva acontecer de forma inadequada, os prejuízos podem ser
irreversíveis.
Sendo assim, a Psicologia é imprescindível neste processo,
constituindo um dos pilares da formação – e também do alto rendimento – junto
com a parte física, técnica e tática. Apesar disso, ainda não recebe a devida
importância e, muitas vezes, enfrenta grande resistência.
Um dos motivos para isso é que a Psicologia do esporte é
uma área relativamente recente no meio esportivo, se comparada a outras
especialidades.
Os primeiros trabalhos no Brasil datam da década de 50, mas
somente nas últimas décadas atletas e comissões começaram a abrir os olhos para
sua importância.
Por ser recente, ainda há muita desinformação a respeito e,
consequentemente, as visões e entendimentos sobre sua atuação acabam sofrendo
distorções.
Uma confusão, que muitas vezes é também motivo de
resistência contra a psicologia no contexto esportivo, é associar com a
psicologia clínica, a terapia propriamente dita.
É importante destacar que são atuações diferentes, com
enfoques distintos.
No esporte, os trabalhos são direcionados aos aspectos
mentais e emocionais relacionados a prática esportiva, de que forma eles
impactam no rendimento e na qualidade de vida do atleta, e de que forma eles
podem ser ajustados para se obter melhores resultados.
É importante compreender também que, trabalhar todos esses
aspectos de maneira efetiva envolve tempo e dedicação, tanto quanto a parte
física.
Formar equipes e atletas bem preparados em todos os
aspectos requer continuidade, e trabalhos pontuais e esporádicos terão um
impacto pouco significativo.
Voltando a questão das categorias de base, são diversos
aspectos que devem ser trabalhados e levados em conta, como mencionados
anteriormente pela colunista Patrícia Deud, além das particularidades em
relação ao profissionalismo.
É preciso compreender e respeitar as fases do
desenvolvimento infantil e adolescente, para se obter o melhor aproveitamento
sem nenhum prejuízo na formação do indivíduo. Um primeiro ponto importante é
que a prática esportiva seja prazerosa para a criança ou jovem, tenha um
caráter lúdico, de brincadeira, e não uma obrigação. Isso reflete diretamente
na motivação, que se torna mais poderosa se partir de razões internas ao
atleta, ou seja, ele deve se sentir motivado pelo próprio prazer de realizar
aquela atividade, pelas conquistas pessoais que alcança através do esporte.
Se a motivação estiver pautada em fatores externos, como a
vitória, o título, o apoio da torcida, ela se torna insustentável caso estes
fatores não estejam presentes, e o atleta pode se sentir frustrado e acabar
perdendo a vontade e o interesse de continuar com aquela atividade.
Nesse sentido, pais e treinadores desempenham um papel de
suma importância, pois o manejo inadequado, com cobranças excessivas, pode
desencadear altos níveis de ansiedade e stress, o que também afeta a motivação,
uma vez que a atividade deixará de ser prazerosa.
Em situações mais graves, pode até impactar na formação da
personalidade e do indivíduo.
Todas as pessoas envolvidas na prática esportiva da criança
ou adolescente devem ter uma postura assertiva, comunicação verbal e não verbal
adequada, que aumente estímulos positivos e reduza os negativos. Isso contribui
para a motivação interna, potencializa a autoconfiança do jovem atleta, entre
outros benefícios.
Outro aspecto importante a ser trabalho com atletas em
formação, é alinhar expectativas e realidade.
O meio esportivo é extremamente competitivo, e são poucos
os atletas que atingem o alto rendimento e o estrelato.
É preciso compreender e esclarecer o que cada atleta
pretende, estabelecer metas e objetivos compatíveis com a realidade, e as
estratégias para alcançá-los.
Para atletas que estejam direcionados ao alto rendimento, é
importante trabalhar essa transição para o profissional e a capacidade de lidar
com todas as variáveis que uma carreira esportiva implica, como exposição a
mídia, fortes pressões e cobranças, as constantes mudanças de cidades e países,
que exigem uma grande capacidade de adaptação, sem que isso prejudique seu
desempenho e sua qualidade de vida.
Estes são apenas alguns aspectos que podem ser trabalhados
pela Psicologia do Esporte, mas o seu alcance é muito mais abrangente.
Desde a integração de novos atletas, trabalhos coletivos
visando coesão de grupo, treinamento e desenvolvimento de capacidades mentais e
emocionais do grupo como um todo ou individualmente, por exemplo tomada de
decisão, manejo do stress e ansiedade, resiliência, coletividade, entre
diversas outras habilidades.
Vale ressaltar, mais uma vez, que são trabalhos que
necessitam continuidade para que sejam efetivos. É preciso conhecer os atletas,
o grupo, e entender seu funcionamento para realizar as intervenções adequadas
conforme as demandas.
Além disso, assim como as habilidades físicas, as
habilidades psicológicas e emocionais podem – e devem – ser treinadas e
desenvolvidas de forma constante. O trabalho da Psicologia deve fazer parte do
cronograma dos clubes durante toda a temporada, assim como outras
especialidades, e de maneira inter e multidisciplinar com todos os profissionais
das comissões técnicas.
Um trabalho bem desenvolvido com categorias de base e
jovens atletas pode trazer diversos benefícios para o atleta em si e para o
clube.
Com atletas mais bem preparados e grupos mais coesos, o
clube pode conquistar melhores resultados.
Valorizar e aproveitar melhor os atletas da base nas
equipes profissionais reduz a necessidade de contratações externas, o que
alivia as folhas salariais, além de contar com atletas mais entrosados e que tem
identificação com o clube.
Acima de tudo, damos aos jovens a oportunidade de se
desenvolverem plenamente, de maneira satisfatória, criando cidadãos e
sociedades mais saudáveis.
É preciso ampliarmos nossas compreensões, para que possamos
evoluir. Trabalhar com a Psicologia do Esporte é trabalhar com o ser humano no
ser atleta.”
A Coluna Quatro Linhas agradece a atenção do profissional
que trouxe todos os seus conhecimentos a seus leitores e deseja muito sucesso
em sua carreira profissional.
Novas entrevistas com temas relevantes virão por aí, o
importante é a satisfação dos leitores que apreciam o esporte.
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